sexta-feira, 27 de julho de 2007

( - Terra sem males - )

Esse texto não tem nada a ver com a história do Carne Humana, mas com um outro projeto de um amigo meu e eu:


- No ano de dois mil e dois conheci uma criatura que julgava não ser criação desta existência chamada Daniel Xavier B. (não escrevi o raio do nome todo porque não sei alemão, dane-se!).

Visionário particular, singularmente cativante. Havia sonhos que não deixavam descansar sua inquieta mente. Ao passo que em alguns meses reconheci semelhanças de mim mesmo, como um reflexo no lago, proveniente da convivência diária com Daniel Xavier.

E, num dado momento, devido a essa convivência, submisso aos devaneios coerentes do caos, decidimos em uníssono tornar mais que palpáveis nossos sonhos, compartilhá-los, torná-los parte da formação de sua alma, amado leitor.

Em breve revelarei os segredos que guardamos, leitor, eu prometo... -



x x x




O Professor parte 1

Todos os dias o café na garrafa térmica estava frio: ele iria se atrasar. Sua ressaca era apenas um detalhe daquela sensação de ter abusado depois do ultimo tempo no Educandário Marques Salles...Iria pegar trânsito, mentir para o coordenador, e dar o fabuloso teste surpresa com uma única questão sobre todo conteúdo dado no semestre. Mas e daí? Seus alunos do Santa Elena eram filhinhos de papai...Foda-se a grana dos coroas deputados...





O Professor parte 2


Nossa! Que dia! Os olhos ardiam e a cabeça com seus trezentos e graciosos quilos estava sendo cruelmente atraída pela gravidade, naquela linda manhã cinzenta e carioca. Sua roupa amarrotada e a barba por fazer eram resquícios subjacentes do ritual quotidiano de exorcismo das perniciosas causalidades que se acumulavam em sua vida. Um protesto estampado desde os tempos de calouro contra a estética vigente e a quem ela se sujeitava, porque tinha raiva da complacência civil e asco da conjuntura desfigurada e estéril que se apresentava. Tinha medo de ser engolido por sua pátria em crise de identidade e às vezes sentia uma necessidade de participar da confecção das redes trabalhadas de mentira e intriga, e posteriormente sabota-las em nome de suas ideologias.





O Professor parte 3

No âmbito material de sua existência ele flertava com algo supremo. Abstrato e profundo. Ainda era muito recente para explicar o que isso significava em si mesmo. Um novo tipo de vaidade norteava seus pensamentos... Mas primeiro ia dar descarga antes de sair para trabalhar...

Site do BRUNO IDIOTA MASTER!

Em paralelo ao Carne Humana, existem outras histórias por aí que estão sendo contadas e nem temos conhecimento dentro desse mar de informção que nos afoga todos os dias.

E uma dessas histórias é a de Ramirez, um mexicano supranacionalista que tem como sonho mudar a língua oficial dos Estados Unidos de Inglês para espanhol.

É, muito louco. Eu também queria saber como ele vai fazer para realizar esse sonho.
Aí embaixo está uma parte da história, apreciem com moderação!


XXX


O Sonho de um Mexicano
Capitulo três, Era uma vez o Mac Donald's(1)


Juan freia a moto,o pneu canta e a moto fica parada
se fosse um piloto qualquer tal manobra de freio não
seria concluída com sucesso.
O mudo fica assustado,mas nem pode perguntar o que
houve,pois Juan é mudo.

Ramirez então,tira o
capacete e olha alegremente para o Mac Donalds
ele vê uma chance de destruir parte da cultura dos malditos
gordos americanos
Por isso que Ramirez pediu que Juan parasse,Ramirez
tinha visto o estabelecimento e essa chance não passaria
em branco

Tamanha felicidade são transmitidas em palavras para Juan.

"Juan estoy perto de matar alguns americanos e destruir um pouco
desta maldita cultura....haahahahahahhaaahh,es lindo,es lindo!"

O Sorriso de Ramirez era indisfarcável,seus olhar era
de furia e felicidade,parecia um louco que conseguia um sorvete
de picles.
A possibilidade de destruir o Mac Donalds era maravilhosa para
Ramirez.
Ele não perde mais tempo,pega um revolver e dá outro a Juan

Ramirez vê um Policial,e acha que se mata-lo agora,terá
menos chances de ser surpreendido lá dentro.
Ele canta a canção feliz de Assasinato de Americanos n° 14

"Americanos yo voy matar,eso es tan feliz
dou tiro no pé,na cintura,en la mão,na bunda ou no Nariz
yo quero mirar mucho sangue,Juan es con tu mi aprendiz"
(Nessa parte da canção seria Juan que cantaria,porém
ele é mudo e não consegue cantar...Mas tenta)

Juan ainda tenta cantar


"hmmmm aaaaaabaaaaa hmmmmmmm aaaaeeeeeee
seeeeeeeee zaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaa
oooooooooooooooooooooo eeeeeeeeeeeeeeeeeee"

logo depois da canção
Ramirez executa perfeitamente o tiro,o policial
é liquidado e cai no cão sem 67% de sua cabeça
A massa cinzenta caindo é vista em camera lenta
pelos olhos de Ramirez.

Ele então se preparava para matar mais americanos
e entrar no MaC Donald's e continuar a chassina
Sua mente e seu corpo num nirvana em junções dizem

"MATAR AMERICANOS,MATAR AMERICANOS,MATAR AMERICANOS"

Por mais que o caminho de seu sonho atual
fosse pacífico,ele matava os americanos,pois
pra Ramirez isso é sempre bom.

Essa matança para Ramirez era como um
hobby saudavel,esporte de fim de Semana,essas coisas

Pois os americanos nos olhos de Ramirez são sujos
impuros,enfim demonios que só atrapalham o México
mata-los é sempre bom para Ramirez,é uma situação de
"limpeza espiritual"

Ramirez,vê outros policiais por perto
e os matas sem ao menos eles perceberem,só
na cabeça,rápidamente como um ninja mexicano.

A rua em que ficava o Mac Donalds estava vazia,só tinha alguns
policiais por perto e todos mortos,parece que tudo
conspirava a favor de Ramirez,tinha umas 5 pessoas dentro
do estabelecimento,a arma de Ramirez era misteriosamente silenciosa
a morte de todos policiais foram feitas com um silêncio angelical
o revolver que o acompanha nessa jornada é todo pessoal
parece uma velha pistola com um cano longo e prateada
mas não é uma pistola,o destaque fica ao "Mexico ou muerte"
que está marcado no cano da arma por uma cor esverdeada.

Ramirez guarda seu peculiar revolver e avança para entrada do
Mac Donald's,ele consegue se acalmar
sabe que mostrar muita furia pode dar bandeira
e Ramirez não quer a policia no seu pé.
O estado de calma é assustador,parece outra pessoa
é incrivel a concentração de Ramirez quando ele pode
ser beneficiado com algo.
Por ultimo ele acende um cigarro e diz a si mesmo

"La accion começou"

quarta-feira, 25 de julho de 2007

11º Corte ( - Ela perscrutou todo refeitório,- )

mas não encontrou de forma alguma o garoto com a cicatriz no rosto.

A multidão de moças e rapazes não passava de um compulsivo monte de nada. Como se fossem massas de corpos descrevendo um grande e negro vazio.

Era assim que a garota pensava.

Áhlima desejava que não fosse dessa maneira. Porém, ela não vivia num mundo que permitia essencialmente pensar, apenas agir.

Depois, Áhlima passou por um grupo de rapazes responsáveis pelo abastecimento de drogas ilícitas no colégio. Nada que fosse contra o consentimento da direção.

Os seios se agitaram como uma pulsação forte.

“Moleque desgraçado!” pensou alto, “onde é que esse miserável se meteu? Por que é sempre mais difícil ter alguma coisa quando você quer alguma coisa? Se eu não quisesse falar com esse babaca ele já teria tentado me agarrar a muito tempo”.

Dois pares de olhos a seguiram.

Júlio era o rapaz mais bonito da escola, e, também, o melhor atirador num raio de cinco quilômetros. Dono dos olhos que vigiavam Áhlima.

Desejou-a na primeira vez que a viu; e odiou-a quando ela mordeu e arrancou um pedaço do rosto de seu colega.

Era certo que o rapaz mutilado não passava de um rival inútil. Todavia, o que o incomodava mais era aquela atitude bárbara. Lembrava os repulsivos hábitos dos asquerosos Garotos do Outro Lado da Linha do Metrô.

Júlio esperava o dia em que estaria só, encarando-a, apontando o seu revólver Smith & Wesson modelo sessenta no meio da testa daquela maldita; e fazê-la sonhar definitivamente mediante a um pequeno pedaço quente de chumbo.

O Sonho Final.

Áhlima prendeu os cabelos num rabo de cavalo liso e brilhante; pensou:

“Ah! Quer saber!? Dane-se esse boiololinha! Dane-se a miserável aula de filosofia! Dane-se toda essa escola! Tenho muita coisa pra fazer pra ficar perdendo tempo olhando a cara desses idiotas!”

Pensou alto, alto demais.

Inesperadamente Júlio se levantou fazendo a carteira gemer debaixo de seu traseiro. Ajeitou a pistola no coldre escondido próximo à virilha e pôs os cabelos por trás da orelha usando os dedos.

“Por algum acaso você tá falando comigo, menininha?”





POST SCRIPTUM: Aqueles que desejarem, podem também visitar a comunidade de Carne Humana e falar o que quizer! O endereço é:

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=26514722

sexta-feira, 20 de julho de 2007

( - Amados e assíduos leitores do Carne Humana, - )

Daqui a algum tempo não estaremos mais aqui.

Seremos sugados na forma mais elementar pelas raízes das plantas de algum cemitério, ou lacrados em um cubículo de mármore com as veias entupidas de formol.



Todavia, não se preocupem tanto.

Enquanto a hora não chega e o fim não nos envolve com seus sedosos tentáculos, continuamos a caminhada mística (para uns) e sem sentido (para outros) que nos sugere o nome de Vida.

Há onze anos decidi como se comportariam meus pés nessa caótica caminhada. Decidi, a partir das primeiras linhas de texto que algum livro empoeirado me sussurrou, viver de sonhos, dos seus sonhos, amado leitor. De todos os sonhos que alcançam uma criança através tantas histórias que lhe são contadas antes mesmo que pronuncie a primeira palavra. Dos sonhos que você carrega no recôndito mais obtuso do seu ser. São esses sonhos que vos movem (na mais delicada sutileza) quando caminhas solitário pelas ruas do mundo, leitor.



Tocar nos seus sonhos e nutri-los com histórias, é isso que tento fazer aqui. E, se possível, despertar os pesadelos que se escondem dentro de você...

segunda-feira, 9 de julho de 2007

10º Corte ( - A história de Iúre, - )


foi assim que ele me contou:

“Praticou kung-fu estilo wing-chun desde os doze anos. Aos treze tornou-se um colecionador de medalhas e troféus participando de inúmeros campeonatos regionais pelo país. Aos quinze, quando o mundo começou a acabar, a loja de depilação de seu pai entrou em processo de falência. Demoraram exatas vinte quatro horas para ter que sair da cobertura de um prédio e se mudar urgentemente para uma mais modesta no subúrbio. Mas não foi de todo ruim. Se ficasse mais alguns dias, teria que começar a comprar o café da manhã e ir ao trabalho de bote salva vidas. O Oceano havia inundado toda a costa em menos de duas horas. (Sorte de principiante... )Como boas vindas na nova escola, um espertinho ateara fogo na sua mochila simplesmente por ser mais cara que a de todos na sala. Utilizando de seu conhecimento em artes marciais, retribuiu as boas vindas com treze fraturas expostas no engraçadinho. Todavia, o mesmo engraçadinho tinha outros quinze amigos armados com facas e paus e muita disposição para matar. Iúre deu sorte de não ter sido esquartejado, voltando para casa sem apenas uma unha do polegar e alguns hematomas. Por sua vez, o pai de Iúre tentou processar a escola e os responsáveis pelos alunos que agrediram seu filho. O governo na época dava mais importância a assuntos de caráter político, ambiental e criminal. Não havia estrutura nem verba para um caso tão insignificante como aquele, sobretudo, com tantos desvios de verbas e ligações com homicídios em massa para serem investigados. Um dos responsáveis, ex-detento, disléxico, semi-analfabeto e armado, ficou ofendido com a abertura de queixa na polícia e resolve tirar satisfações com o pai de Iúre. Não demorou muito. Pai e filho iam jogar fliperama quando deram de frente com o responsável indignado. Um estampido fez o sangue torácico chover sobre Iúre. Antes de morrer com o filho abraçando sua cabeça, o pai de Iúre viu o responsável atirar na sua costas, e fazê-lo sentir uma dormência que nunca mais o abandonaria.”

E foi isso que ele disse que aconteceu.

9º Corte ( - Eu nunca levei uma arma para escola. - )

Na minha escola anterior, os inspetores revistavam os alunos todos os dias. Nunca levei uma faca sequer por isso.

A nova escola era diferente. Alunos e professores definitivamente não cruzavam olhares. A ausência de inspetores encorajava a desordem pelos corredores, sendo visto na maioria das vezes como coisa normal pelos próprios responsáveis. Eles também não se importavam, a maioria era omissa pelo medo de possíveis retaliações dos marginais homicidas que ocupavam as bolorentas salas de aula. E tinham completa razão em agir assim.



Iúre foi o garoto que conheci no refeitório. Eu tinha perdido Áhlima de vista e resolvi sentar na parte mais escusa do recinto. Os vapores de legumes saindo da cozinha nos faziam suar.

Notei esse Iúre sentado ao meu lado. Ele montava uma lubrificada cadeira de rodas com um adesivo escrito: “crucifiquem Buda, pelo amor de Deus!”.

Eu ri.

Não pude evitar a curiosidade e então perguntei: “O que é que Buda fez pra você, cara.”

Virou-se para mim com uma cara de quem ia arrancar meu fígado, colocar na bandeja e me obrigar a comer. Rosnou:

“Seu playboyzinho de merda, quer tirar onda com minha cara?”

Encolhi-me na altura de minha insignificância. “Foi mau cara. Não era minha intenção...”.

Seguidamente o paraplégico mudou de expressão. Agora parecia que queria me esmagar com um abraço naqueles braços musculosos pelo exercício constante. “Que nada, garoto. Eu pensei que você fosse mais um daqueles idiotas que gostam de ficar se aproveitando dos outros. Se fosse a coisa ia ficar feia aqui.”

Limitei-me a ficar de rosto enrubescido e calado. O cara podia ser louco ou coisa parecida. Esperei ele falar.

“É que você não sabe como são as coisas por aqui. Tá vendo essa cadeira de rodas, você acha que nasci assim? Eu saí perfeito de dentro a vagina da minha mãe! Agora tô preso nessa bosta de cadeira pra sempre. Eu vou te contar uma coisinha, garoto.”

Iúre começou a contar a história de como nunca mais sentira o seu corpo da cintura para baixo, eu a avistei: Áhlima percorria o corredor formado pelas mesas do refeitório. Bem longe.

“Olha pra mim que eu quero te contar uma parada, garoto!”

Fingi ouvir, entretanto minhas atenções continuavam voltadas para o rosto bronzeado de Áhlima e seus macios seios (possivelmente rosados).

domingo, 8 de julho de 2007

8º Corte ( - “Mas que cara mais estranho”, pensou Áhlima. - )

Algo do tálamo[1], no interior fresco de seu crânio atraia a curiosidade para aquele rapaz. Não era seu tipo físico ( detestava garotos pequenos ), nem a cor dos seus olhos ( preferia verde a castanhos ) e muito menos o seu jeito de falar e andar, “que cara de fracassado!”.

De início, Áhlima foi tomada pelo impulso de levantar, andar até o fundo da sala e confabular até cansar com o magro rapaz. Ela era capaz disso, sem dúvida, mas a idéia de ceder a um mero impulso a enojava. Uma palavra apenas: orgulho. Nem boa nem ruim. Apenas mais uma palavra.

Contudo, aquele impulso não parava a escalada no seu estômago, subindo, alisando os vasos sangüíneos da garganta, chegando à boca como uma vontade de gritar. Seus desejos sempre se comportavam dessa maneira. Às vezes era impossível controlá-los...

Mordiscou o lábio inferior num hábito que nunca abandonava, a vontade de levantar era mais forte, tocava-a mais intimamente que qualquer faca de cozinha. Parecia que ia sangrar. Tencionou ir por um momento.

“Não. Não posso ir. Eu tô ficando doente de novo. Primeiro aquele sonho estranho e agora isso! Acho que minha mãe tem razão. Eu sou uma maluca por ficar imaginando essas coisas!”. Áhlima sorvia pensamentos conflitantes, cheios de contrastes e irresistíveis... “AH! Quer saber de uma coisa: Dane-se!”

A garota se levantou rápido, de forma que seus seios balançaram languidamente.

“Eu vou lá ver quem é esse idiota.”

X X X



O sinal disparou de repente, espalhando seus berros pelos corredores da escola. Todos levantaram ao mesmo tempo.

O rapaz veio em sua direção, mas sem intenção visível de falar com ela.

Áhlima ficou esperando ele se aproximar, se aproximar, se aproximar, mais um pouquinho e... E passar direto indo para fora da sala.

"Prova substancial de que sou uma idiota."

Ele se misturou com o mar quente de corpos de alunos secundários, ela o seguiu.




[1] Região do cérebro responsável pela curiosidade.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

7º Corte ( - Foi naquela tarde que encarei Áhlima pela primeira vez. - )

Os olhos dela, por alguns instantes, pareceram com os da minha mãe. É claro que é uma afirmação tola, porque eu nem mesmo chegara a conhecer mamãe, mas de alguma forma aqueles olhos profundamente negros escondiam uma discreta essência de maternidade. Ou talvez fosse só impressão minha devido à fragilidade condicional do meu próprio cérebro... Não importava.

Eu sei apenas que me senti confuso ao vê-la sentada displicentemente naquela cadeira velha de escola. Para minha surpresa, ela também olhava para mim, numa reciprocidade afável para o meu ego. Em nenhum instante pensei que a causa de Áhlima me encarar intermitentemente era a enorme cicatriz do lado esquerdo de meu rosto (prova de minha notória atração por brigas violentas).

XXX

Entrei na sala e cumprimentei a professora de literatura. “Bom dia, senhora.” A estranha mulher nem ao menos levantou a cabeça de sua leitura para me cumprimentar. Meus instintos diziam que de alguma forma ela sentia medo de mim.

Instalei-me então no fundo daquela sala abafada, repleta de indivíduos detestáveis (e alguns provavelmente armados...).

Nunca conseguiria sentar ao lado de Áhlima em primeiro instante. Puxar uma conversa. Sempre fui deveras inibido para qualquer atitude em relação ao sexo oposto. Também nunca soube o porquê, nunca me questionei ou refleti sobre o assunto. Agora ela estava lá, bem lá na frente. No início vazio da sala. Envolta de poeira cancerígena de giz e comportando a própria languidez em seus seios.

“Mas que garota linda é essa”, pensei.

6º Corte ( - O sinal para o intervalo disparou... - )

... só que era dentro da cabeça de Áhlima, gritando aos alunos que a aula já havia terminado. “Não. Eu me enganei. Foi só um tiro. Só um maldito tiro lá na rua... eu vou acabar enlouquecendo nesse inferno! Como é que pude confundir um tiro com uma campainha?!” indignou-se severamente consigo mesma.

Naquele mesmo instante, algo lhe chamou sutilmente a atenção para a porta da sala de aula. A nuca arrepiou-se instantaneamente. A hiper-hidrose nas mãos fez os dedos respigarem de suor. Não sabia exatamente o que sentir. O orgulho e arrogância a faziam pensar daquela forma, enfiando pensamentos obscuros em sua mente. Estava tão confusa quanto um relógio atrasado. Os próprios desejos aturdiam as cognições imprecisas de Áhlima. Assim como o estranho sonho que acabara de ter. Na dúvida, preferiu dizer para si mesma em voz baixa: “Mas que droga é essa?”.