quinta-feira, 23 de agosto de 2007

14º Corte ( - Eu ouvi: - )

“Ode a morte, Opus seiscentas e sessenta e seis”.

Tudo porque um cara bonito mudara de idéia e resolvera atirar...

Áhlima e Iúre correram para a porta fazendo ruídos metálico com a cadeira de rodas.

Eu caí, sentindo uma leve dormência devido aos pedaços de chumbo que penetravam minhas costas. Minha coxa esquerda se encharcou toda com o sangue do meu traseiro. Esse projétil desgraçado saiu pela parte da frente da minha perna.

Além do barulho ensurdecedor dos tiros e da cadeira de rodas se afastando desesperada, eu pude ouvir Júlio gritando aos seus colegas:

“O maluco jogou a bomba, cara! Corre! Corre, senão a gente vai morrer!!!”



O explosivo de fabricação caseira voou da mão de Iúre até chocar-se na superfície áspera de uma das mesas, estimulando os componentes químicos instáveis no interior da embalagem reagirem.

Iúre atirou-o bem longe do meu corpo caído no chão.

Mas não o suficiente para evitar que eu sentisse seu calor, e me fazer umas queimaduras de primeiro grau nas pernas.

Choveu sangue de alunos secundaristas para todos os lados. A decoração fora radicalmente modificada naquele dia. Disso não se podia duvidar.

A fuga dos dois prosseguiu até alcançarem o ar mormacento das ruas. Para bem longe de mim e dos tiros homicidas.

Eu fiquei ali, deitado, apreciando o cheiro de carne queimada dos colegas de Júlio. Que por sua vez, se abrigou bem rápido, usando dois de seus companheiros como escudo humano. Para o alívio das garotas que o idolatravam, saiu ileso daquela explosão.

Antes de meus sentidos caírem num profundo torpor, alguém se aproximou de mim, eu acho. Mas não agüentava mais a dor. Adormeci como uma criança com as pernas queimadas.

Foi naquele dia, não sei se em sonho ou desperto que vi pela primeira vez Stephen.

Meu amigo, um dos melhores: senhor Stephen K.

13º Corte ( - Iúre estava armado com uma pistola. - )

O modelo dela era Browning Hipower calibre nove milímetros; munição sempre na câmara, pronta para atirar.

Se Júlio era o melhor atirador num raio de cinco quilômetros, Iúre era, sem dúvida, o melhor em dez quilômetros. A maioria nem se aventurava a aproximar-se do atirador paraplégico, o que o tornava tão invisível quanto Áhlima.

Na hora do almoço ficava sozinho à mesa, evitado como um cão raivoso qualquer.

Ele não gostava de admitir, mas odiava ficar só.

Depois que o maldito ex-detento matara seu pai e lhe arrancara a capacidade de andar (com um tiro no meio da espinha), Iúre foi obrigado a se virar sozinho naquela cidade.

Primeiro, comprou sua pistola Browning Hipower cheirando a nova. Os Garotos do Outro Lado da Linha do Metrô arranjavam munição bastante barata; (às vezes custavam simples informações sobre as pessoas “do lado de cá”).

Em menos de uma semana de treino já conseguia agrupar oito em dez tiros no alvo improvisado, feito numa árvore podre de num terreno baldio perto de casa.

A segunda atitude de Iúre foi se vingar... bem, essa é uma outra história que deixarei para mais tarde.



Enfim.

Depois disso, ninguém nunca mais ousou chegar perto de Iúre, tratando-o como se fosse uma horrenda aberração invisível. Ele deslizava com sua cadeira de rodas feito um fantasma, entrando e saindo pelas salas, ignorado o máximo possível pelas pessoas.

Fora eu o primeiro que lhe dirigira uma palavra sem demonstrar medo em dois anos.

No primeiro instante, quando Iúre me contou sua história, tive a impressão de que ele sofria alguma espécie de perturbação mental...

A coragem estúpida e ameaçadora contida em sua voz tinha que ser loucura. Excedendo a autoconfiança. Não imaginaria nunca alguém na condição de Iúre encarando um monte de rapazes enormes e armados. Preso em naquela cadeira de rodas.

Júlio sorriu francamente, como um curinga numa carta de baralho. Debaixo do uniforme escolar seus músculos tensos esticavam o tecido.

“Você tá maluco, metade de presunto podre?”

Revólver Smith & Wesson modelo sessenta coçou junto à virilha.

Apareciam mais e mais motivos para Júlio atirar. Mais e mais cabeças para detonar com a munição de cordite importada.

“Você pretende fazer o quê sentado nessa cadeira de rodas? Levar a gente para participar das para-olimpíadas?”

Iúre foi subestimado, coisa que Júlio costumava fazer com todos. Afirmando para si mesmo que mandava por aquelas redondezas.

“Perfeito” pensou o aleijado.

Eu não entendia muito bem aquela situação. Todos sacando suas armas de tantos bolsos ocultos ou do cinto das calças jeans. Era coisa demais para minhas cognições absorverem.

A visão de Iúre puxando sua Browning Hipower nove milímetros de debaixo da coxa me fez congelar.

Contudo, havia algo mais de aterrador naquela cena. Algo que me fez arregalar os olhos até as têmporas. A prova final de que Iúre beirava a insanidade.

Precisamente em suas mãos calejadas, estava um explosivo de fabricação caseira a base de nitroglicerina.

Como todos sabem, bombas desse tipo não são muito famosas por sua estabilidade. Um choque de leve é capaz de transformar um ser humano numa amputação tamanho família, bem econômica.

Iúre não conseguia esconder o sorriso seco. A ilusão do controle.

“Larga a vagabunda, play-boy de merda!!”

Ele indubitavelmente o intimidara.

Júlio levantou as sobrancelhas de maneira sincera e disse:

“Se eu fosse você não apareceria nunca mais por aqui, seu doente.”

“Acho que você se torna mais doente ainda quando ameaça um... cara como eu.”

O belo rapaz abaixou seu revólver sem tentar esconder a tremedeira de medo e raiva. Os outros fizeram o mesmo.

Áhlima correu para o nosso lado quase gargalhando.




“Seu escroto! Agora tá com o cu na mão, né, gostosão?! Você é daqueles tipos de covardes que se mijam todo quando estão por baixo! SEU BUNDÃO!”

Júlio tremeu mais ainda:

“Se eu fosse você começava a aprender a atirar, menininha. Ou você vai parar numa cadeira igual a essa em que o rapazinho inválido está... entendeu menininha?”

Nós o ignoramos e nos dirigimos para a saída dos fundos. Áhlima sentiu o frio da cadeira de rodas quando começou a empurrar Iúre. Eu estava logo atrás.

Uma corrente de sangue irrompeu pela minha espinha, era alívio. Parecia que estava em menos perigo do que há dez segundos atrás...

Pouco mais de sete metros e já estaríamos lá fora, em segurança...

Seis metros...

Quatro metros e meio,

Dois metros.

Que pena. Tempo demais.

O tempo necessário para Júlio mudar severamente de idéia e dizer para um de seus colegas: “Atira logo, Filipe.”

Todos levantaram suas armas, engatilharam afoitos e abriram fogo. Ele mesmo não resistiu em dar alguns disparos molhados.


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quarta-feira, 1 de agosto de 2007

12º Corte ( - Áhlima sentiu os ossos gelarem. - )

Não sabia se era exatamente por medo ou culpa da atração física que despontou repentinamente pelo rapaz.

Os olhos claros de Júlio estimularam seus mais profundos instintos.

Ele, diferente dos adolescentes magros que podia facilmente encontrar no colégio, era forte, ombros largos, rijos, os músculos definidos por baixo da pele.

O rosto lembrava um daqueles atores-modelos de seriados populares de televisão. Uma expressão angelical definia sua face. Havia quem dissesse ser grosseria comparar Júlio a qualquer outra pessoa, porque, para as garotas da escola (e alguns “rapazes”), Júlio era perfeito.

Além disso, a última coisa de que Áhlima precisava era escoriações e projéteis alojados no corpo.



“Ele é um garoto, certo?... Certo” uma gota de suor frio desceu pela têmpora de Áhlima, “Garotos gostam de garotas, certo?... Certo. O que tenho que fazer é me aproveitar disso, certo?...”.

Áhlima não tinha uma arma, mas um bisturi que roubara do laboratório de ciências. Definitivamente não seria útil agora. Entretanto, nunca seria capaz de ferir um centímetro daquele rosto tão lindo. Perfeito.

Era esquisito afirmar, mas ela desejava Júlio imensamente e tinha muito medo disso.

“E aí menininha, você não sabe falar? Não adianta tentar me enganar, menininha, porque eu ouvi muito bem você chamando a mim e meus parceiros de idiotas”.

As mãos de Júlio enrijeceram. Queriam envolver o punho da arma, queriam apontar para aquela menininha insolente, queriam pressionar o gatilho lubrificado e atirar, só uma vez.

“É mais saudável você me responder, ou vai ficar mais enrolada do que está”.

“Não. Não, cara! Não é nada disso que você está imaginado! Eu só pensei alto demais...”.

De um lado a outro; nenhum sinal de inspetor para salvar sua vida.

“Júlio. É esse seu nome, não é? Eu nunca me atreveria a chamar uma pessoa do seu tamanho de idiota.”

Tinha certeza que o volume nas calças do rapaz era uma arma. Sim, era uma arma. Fria, metálica, assassina.

Aos poucos o refeitório se esvaziou. Os adolescentes saíram sem olhar pra trás, atravessando a porta que dava para o pátio, até só restar Jonas, Iúre e uma dúzia de amigos de Júlio no lugar.




“Estamos a sós, menininha...”, mentira, uma faxineira observava tudo apoiada numa vassoura, como se fosse um filme. “Não adianta tentar me enrolar, eu ouvi muito bem você chamando todo mundo de idiota, que não ia ficar perdendo tempo olhando pra nossa cara... eu fiquei muito sentido com esse destrato...”

Júlio parecia um belo anjo cruel no juízo final. E Áhlima, um cervo, momentos antes de ser abatido pelo machado.

“É melhor você vir comigo, lá fora tem mais espaço pra resolvermos esse negócio”.

Tarde demais para correr. Os outros a cercaram antes que pudesse pensar em fugir. Não havia mais para onde ir. Não havia mais nada. Ela sabia que ia morrer.

“CARA! PELO AMOR DE DEUS! EU NÃO ESTAVA FALANDO COM VOCÊ!”

“Odeio ser grosso, mas também odeio ser taxado como um idiota por uma qualquer que nem você, ...você também não tem idéia de com quem esteja falando. Infelizmente não foi só eu quem escutou a ofensa, por isso vamos ter que resolver agora. Vem comigo, menininha...” Júlio falava serenamente como uma brisa, “Exceto se você...”

“Se você o quê...?”

“Tem uma coisa que eu quero de você”.

“Fala! Qualquer coisa pra não ter mais problemas!”

“Nada demais, menininha”.

“Sim, o quê?! Diz logo!”

“Eu só queria sua vida, e isso eu já vou tirar a força mesmo, então não tem nada que me interesse...”.

As gargalhadas reverberaram no recinto abafado. Os amigos de Júlio sempre riam como hienas antes de alguém morrer. Um dogma religioso característico do grupo de amigos armados.

“Agora, se mexa, garota e venha conosco. Eu não trouxe meu silenciador...droga.”

Áhlima já havia armado as unhas e os dentes no meio da tremedeira. Estava disposta a se sacrificar, contanto que desfigurasse Júlio com seu inefável rosto. Daria um belo prejuízo.







Mas Iúre, que assistia a tudo indignado, gritou de repente:

“Ela vai com você PORRA nenhuma, seu maldito desgraçado!!







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