segunda-feira, 9 de julho de 2007

9º Corte ( - Eu nunca levei uma arma para escola. - )

Na minha escola anterior, os inspetores revistavam os alunos todos os dias. Nunca levei uma faca sequer por isso.

A nova escola era diferente. Alunos e professores definitivamente não cruzavam olhares. A ausência de inspetores encorajava a desordem pelos corredores, sendo visto na maioria das vezes como coisa normal pelos próprios responsáveis. Eles também não se importavam, a maioria era omissa pelo medo de possíveis retaliações dos marginais homicidas que ocupavam as bolorentas salas de aula. E tinham completa razão em agir assim.



Iúre foi o garoto que conheci no refeitório. Eu tinha perdido Áhlima de vista e resolvi sentar na parte mais escusa do recinto. Os vapores de legumes saindo da cozinha nos faziam suar.

Notei esse Iúre sentado ao meu lado. Ele montava uma lubrificada cadeira de rodas com um adesivo escrito: “crucifiquem Buda, pelo amor de Deus!”.

Eu ri.

Não pude evitar a curiosidade e então perguntei: “O que é que Buda fez pra você, cara.”

Virou-se para mim com uma cara de quem ia arrancar meu fígado, colocar na bandeja e me obrigar a comer. Rosnou:

“Seu playboyzinho de merda, quer tirar onda com minha cara?”

Encolhi-me na altura de minha insignificância. “Foi mau cara. Não era minha intenção...”.

Seguidamente o paraplégico mudou de expressão. Agora parecia que queria me esmagar com um abraço naqueles braços musculosos pelo exercício constante. “Que nada, garoto. Eu pensei que você fosse mais um daqueles idiotas que gostam de ficar se aproveitando dos outros. Se fosse a coisa ia ficar feia aqui.”

Limitei-me a ficar de rosto enrubescido e calado. O cara podia ser louco ou coisa parecida. Esperei ele falar.

“É que você não sabe como são as coisas por aqui. Tá vendo essa cadeira de rodas, você acha que nasci assim? Eu saí perfeito de dentro a vagina da minha mãe! Agora tô preso nessa bosta de cadeira pra sempre. Eu vou te contar uma coisinha, garoto.”

Iúre começou a contar a história de como nunca mais sentira o seu corpo da cintura para baixo, eu a avistei: Áhlima percorria o corredor formado pelas mesas do refeitório. Bem longe.

“Olha pra mim que eu quero te contar uma parada, garoto!”

Fingi ouvir, entretanto minhas atenções continuavam voltadas para o rosto bronzeado de Áhlima e seus macios seios (possivelmente rosados).

Nenhum comentário: