Um cisto entranhado nas carnes vivas de um Porco.
O animal andava de um lado ao outro esperando a ração ser servida naquele dia. O que o tal Porco não sabia, era que aquele dia era um dia especial.
O último dia de sua inútil vida.
Diferindo-se dos outros companheiros suínos, tensos por causa das péssimas condições de alojamento, ele não via a hora de servirem a ração com farelo de ossos de outros porcos.
Porcos canibais.
Ele era Porco bem diferente dos outros. Especialmente por uma bela ferida necrosada se afundando em seu dorso. Não se importava com as instalações deprimentes daquele abatedouro clandestino.
Fazia um frio de sete graus lá fora, quando um homem de avental segurando uma pistola de eletro choque deu seus passos na direção do curral. O assíduo carrasco.
Ele cuspiu o filtro de cigarro.
Estalou os dedos.
E sacudiu a pistola.
Tensão de duzentos e quarenta volts.
Exatas.
Conforme se aproximava, o desespero tomava conta dos suínos.
Apesar das drogas na ração, para evitar que os porcos se matassem devido ao pouco espaço, parecia sobrenatural a maneira como os animais se agitavam e sabiam o que estava para se suceder ali.
Não haveria uma última refeição para o nosso Porco. E ele não se importava. Contentava-se apenas com as fezes secas de outros porcos no chão.
O choque repentino de duzentos e quarenta volts correu pelas fibras musculares do Porco fazendo revirar os olhos e babar.Estava tão gordo e sedentário devido à castração que caiu imediatamente. Um outro ligeiro choque serviu para que ele se levantasse grunhindo.
Os cem porcos alucinados foram conduzidos a pancadas elétricas no crânio até um corredor completamente escuro. Apenas uma saída no cercado. Era um abatedouro pequeno.
Todos os animais entalaram no breu. Gemendo e mordendo-se. Mutilando-se em meio ao desconhecido.
Agora o Porco não estava mais tranqüilo.
Mesmo sem ter a capacidade de produzir uma gota de testosterona, ele podia ouvir um vermezinho chamado instinto dentro do seu sangue berrando:
- Corra Porco! Corra!
Ele derrubou três outros porcos no chão antes de encontrar o fim do corredor. Correu como um atleta olímpico antes de dar de frente com a própria morte no fim do corredor.
Ao se abrir a porta uma luz surgiu descrevendo a silhueta de outro homem com uma daquelas pistolas elétricas mortais.
Só precisou de uma descarga e o infeliz animal caiu com um baque surdo no chão. O homem de avental e botas brancas puxou o Porco para fora e fechou a porta de madeira. Um porco rebelde tentou sair logo atrás e ganhou de recompensa o choque responsável por estourar a mucosa de seu focinho.
Ele grunhiu. O homem sorriu.
Depois disso, pendurou o Porco de ponta cabeça em ganchos de aço inoxidável novos, perfurando os pés.
As pernas não agüentaram o peso da carne gordurosa do animal.
Clac!
Cederam e se quebraram dolorosamente. O Porco guinchou de dor.
O homem sorriu novamente; acendeu um cigarro. Jogou o fósforo saindo fumaça na cara do Porco.
A tensão fez o animal morder a própria língua ainda dormente por causa do choque elétrico.
O Porco só conseguia ouvir. As lágrimas e o aumento da pressão no globo ocular impediam que enxergasse, então ouviu o barulho do cutelo sendo apanhado na bancada de alumínio.
Os passos.
Aquele riso. Podia ouvir os lábios rangendo enquanto o Carrasco sorria.
Ele deu alguns passos ruidosos quando se aproximou. Sugou mais fumaça pra dentro dos pulmões. O cigarro entre os dentes.
- É porquinho. Dessa vez você é o porco e eu sou Deus! Quem sabe da próxima vez você dê sorte e a gente inverta os papeis? Hein? AHAHAHA!
Ele encostou a lâmina na garganta do infeliz e, como eu dizia antes:
“Havia um cisto”.
“Um cisto entranhado nas carnes vivas de um Porco”.
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